Je vous salue, Sarajevo (1993), de Jean-Luc Godard
Je Vous Salue Sarajevo é um curta-metragem do diretor suíço Jean-Luc Godard que expõe uma reflexão sobre a guerra da Bósnia, ocorrida entre 1992 e 1995, e a cultura europeia. A produção mostra partes de uma fotografia realizada por Ron Haviv e Luc Delahaye assentada em uma sonoridade instrumental ao passo que o próprio diretor narra oralmente a mensagem crítica sobre o ocorrido. Esta mensagem apresenta uma oposição entre as culturas de consumo, de expansão e de poder e a arte que, segundo Godard, é uma exceção expressa por meio da escrita, da composição, da pintura e da própria vida. Inicialmente o diretor aborda o temor como forma de advogar em favor da humanidade, um fator psicológico cujo efeito resulta na atenuação de entraves a partir da aceitação desse sentimento não como algo pejorativo, mas fundamental.
Nesse sentido, o filme apresenta de maneira singela a observação de Jean-Luc Godard acerca dos massacres ocorridos em cidades da Bósnia e Herzegovina, como Sarajevo, durante o período armado citado. A narração do autor e as imagens se acompanham na medida em que os argumentos são expostos, reforçados pela transmissão de uma composição sonora em violino que evoca uma sensibilidade para com o conjunto. Essa sensibilidade, entretanto, se abala pelo ritmo intenso da exposição oral do autor, complexificando o entendimento a priori de sua manifestação.
Relacionando com a realidade atual, o pensamento de Godard se posiciona como contemporâneo e concreto a partir da reflexão feita sobre conflitos armamentistas hodiernos e as formas com as quais esses impasses são retratados e comunicados. Portanto, assim como o medo, exemplos como Sarajevo não podem ser renegados, pois são estes que suplicam por nós.
Marlon Ramos
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O Curta Metragem Je Vous Salue Sarajevo (1993) dirigido pelo diretor suiço Jean-Luc Godard, nos coloca na perspectiva da guerra da Bósnia, ocorrida entre 1992 e 1995 como parte da dissolução da Iugoslávia, sendo este o maior conflito pós segunda guerra mundial, causando, aproximadamente 140.000 mortes. O curta se utiliza de uma fotografia, com inúmeros cortes em partes da imagem, com narração e um fundo musical instrumental, O narrador faz um paralelo entre a regra e a exceção, sendo a cultura a regra e arte a exceção. Fazendo uma distinção entre cultura e arte, Sendo uma das mensagens que o curta tenta transmitir é de que a natureza da cultura é suprimir a arte, mas não necessariamente colocando as como antagônicas, o narrador tenta mostrar que a arte possuí o papel de questionar e provocar o que foi estabelecido pela cultura, expandindo o que é valorizado e aceito na sociedade
Ao final do filme sem música nem a voz do narrador, vemos uma outra fotografia de uma pessoa com a cabeça abaixada em um objeto, parecendo a intenção do autor apontar para um mundo de guerras constantes que não possuem fim.
Rafael Perkovski Müller
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No curta de Jean Luc Godard “Je vous salue Sarajevo”, de 1993, produzido para a Bienal de Veneza, o diretor á partir de uma fotografia, de Ron Haviv, que se revela inteiramente aos poucos, dá seu monólogo para apresentar uma visão política sobre a arte. A imagem representa a mais pura violência, homens com caras sérias, em um corte, revela a posse das armas, com um corte, um deles na posse de um cigarro, em um corte, esse homem aponta a arma para uma mulher rendida. Essa foto foi tirada durante o Cerco de Sarajevo, o maior da história moderna que durou entre abril de ‘92 e fevereiro de ‘96, fazendo parte da Guerra da Bósnia e Herzegovina, conhecida por massacres e genocídios, na mensagem de Goddard é clara, a exceção só existe com a regra, e se a regra é a cultura e a arte a exceção, ambas coexistem e são inseparáveis, a mensagem torna-se mais densa conforme entendemos o contexto, ele diz que a “Europa Cultural”, a regra quer matar a exceção, aqui também “se torna a arte de viver, Srebrenica, Mostar, Sarajevo”, três cidades que sofreram massacres. Se a cultura é o cigarro, se a cultura são os computadores, se a cultura é a guerra, a arte está para derrubar esse cultura, a arte expande a cultura e a transforma, todos falam sobre a regra, mas a exceção não é falada, e sim se comunica nas diversas formas de expressão artística, como nesse filme.
A mensagem é política e esse é o princípio do texto, mas por ora, o telespectador pode se ver perdido como o autor da obra, no início, ele tenta trazer sentido ao medo “Ela cuida de toda agonia mortal”, trazer sentido ao terror daquela imagem, mas o sentimento é dúbio, no final a foto é posta por outra foto, mas de novo é melancólico, um luto pelas mortes que aconteciam na Europa fruto dessa cultura, ou a montagem cessa a tristeza? De qualquer forma, a mensagem foi passada, com peso, e sem arrependimentos.
Material utilizado para pesquisa:
https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/os-1425-dias-de-sarajevo.phtml
https://www.planocritico.com/critica-je-vous-salue-sarajevo-na-escuridao-do-tempo/
https://youtu.be/TlFCGb3oBqA?si=2tDlGNhXKnK1JpKk
Vinicius Lemos Marcílio
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Godard em seu filme, como propriamente o nome de sua obra já diz, saúda Sarajevo. Saúda as vítimas da Guerra da Bósnia de 1992. Os saúda porque os enxerga como um artista que enxerga uma obra de arte. Ele argumenta, de forma impactante, nos poucos minutos que a obra possui, que a arte é exceção, não é dita, mas vivida. Que cultura é a regra, é falada. Na Europa dos anos 90 a regra era a guerra, especialmente nos Balcãs, onde o fim da URSS e Iugoslávia atravessavam como um eco de morte. Vizinhos voltando armas contra vizinhos. Amigos agora inimigos. As vítimas, portanto, eram o alvo do objetivo da regra. Eram a exceção, arte.Não somente, mas inteligentemente o narrador/autor ainda quebra a fotografia durante o curta metragem como se fosse uma obra de Caravaggio. Uma cena estática, mas cheia de simbolismos, signos e sentidos. Primeiro dois homens, com feições casuais, enquanto narra o medo. Completa a frase ao mencionar como tal sentimento é, na verdade, zombado, contrastando a feição dos soldados com o punho firme que o fuzil. Ao mesmo tempo, se refere ao medo como uma figura quase religiosa, divina, que intercede pelo homem. O protege.Em seguida, evoca novamente a casualidade. O cigarro aceso entre os dedos de outro soldado. Explana a cultura como regra, como justamente o cigarro repousa nas mãos do homem, sem medo. Todavia, não se diferencia da guerra, do rifle que se encontra na outra mão desse homem. A cultura é explícita, como a violência do chute do soldado que se revela em seguida. Continua, ao mesmo tempo, falando da arte. A exceção. Não dita, vivida. Silenciosa, escrita, composta, pintada, filmada. A arte de viver, de se apegar a vida se encontra nas vítimas no chão. No contraste do frio do concreto com o calor do sangue.A casualidade da cultura, de empunhar armas como se fosse o mesmo que fumar um cigarro, confronta a arte de viver. Godard finaliza sua frase falando que não se arrependerá quando a história acabar. Pois há pessoas que vivem a cultura e pessoas que morrem na arte.O filme ainda se fecha com o enfoque na mão de uma pessoa em outra foto, se segurando com toda a força no que parece ser um prato, se agarrando, em verdade, na vida. É a arte de viver.Gustavo RochaGustavo Rocha
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------------“Je Vous Salue Sarajevo” é um filme muito breve, mas intenso. Em vez de mostrar cenas de guerra em movimento, Godard utiliza uma fotografia estática acompanhada de uma narração densa. Essa escolha já chama a atenção: aparentemente nada acontece, mas o peso das palavras cria uma atmosfera de desconforto.
O mais marcante é que ele não explica a guerra de Sarajevo de forma direta. Prefere falar sobre a violência, a cultura e o modo como nos acostumamos a assistir tragédias sem reagir. Esse distanciamento funciona como um espelho, colocando também o espectador sob julgamento.
Apesar da simplicidade formal, apenas imagem e voz, o curta transmite uma forte sensação de angústia. Não se comporta como um documentário tradicional, mas sim como uma reflexão filosófica sobre a banalização do horror.
No fim, a impressão é de que Godard não queria apenas registrar um conflito, mas provocar uma autocrítica: questionar até que ponto a indiferença coletiva contribui para que a violência se repita. É breve, mas continua ecoando na mente depois que termina.Eduardo Favacho De Queiroz Filho--------Godard traz uma mensagem que impacta e traz reflexão profunda. O medo de certa forma é apropriado por todos, é um sentimento, dor, uma chave para parar, é amaldiçoado e ao mesmo tempo necessário, traz o medo de viver, o medo de morrer, o medo do próprio medo. A foto ao fundo, os detalhes, mostram o medo, em diferentes perspectivas e jeitos, mostram também o sentimento de ambição, superioridade.A regra e a exceção, o poder, o dinheiro, o egoísmo, a morte por interesses, a regra. O surreal, as experiências, os sentimentos, o toque, os cheiros, a sensação, a felicidade, a tristeza, a vida, a exceção.O fato da comparação entre viver, e sobreviver. A vida é sentida, ela é experimentada, ela é visível, a dor está presente nela, sempre irá existir a dor, a felicidade, a raiva, pois é a vida, e o fato de ser tão intrigante e complexa, é o que dá sua beleza.A regra, a dor novamente, o querer, a ambição e uma vontade intrínseca de sempre querer. A foto trás o sentimento de dor, empatia, mostra como a regra se opõe a exceção, mostra como a cultura talvez de um modo possa apropriar a arte, toma-la, e se opor. Muitos vivem a arte, outros vivem a cultura, as vezes a força, as vezes por querer, o filme trás reflexão, trás empatia, trás dor, e trás tristeza. Tristeza ao ver a arte mais bela, a arte da vida, tomada pela regra, e tomada pelo medo, medo amaldiçoado mas que nunca os abandona. Mas, e o medo da regra? o medo da cultura, o medo da oposição, qual medo é esse? a dor é sentida do mesmo jeito?O medo é a ligação, entre cultura e arte, entre regra e exceção, o autor nos faz pensar, a arte de viver sempre irá florescer? ou ela já se foi antes mesmo de nascer?O trecho trazido pelo autor, em, "Eu vi tantos viverem tão mal, e tantos morreram tão bem", mostra como o ser humano sempre almeja o seu propósito, e tantos que não chegam no objetivo final proposto pela vida, pelo fato de não saberem o seu.. propósito.O mal é o ser humano e as peças que ele se prega... essa ambição ao desconhecido leva ao medo, e leva à loucura, por descobrirem o que sempre almejavam.Nathan.----Em “je Vous Salue, Sarajevo”, Jean-Luc Godard elabora uma reflexão estética e ética sobre a violência a partir de uma única fotografia da guerra da Bósnia. O curta não se propõe a narrar fatos históricos, mas a tensionar o olhar do espectador diante da brutalidade registrada na imagem. O diretor, ao fragmentar e recompor a fotografia, desloca a atenção para detalhes que tornam visível a desumanização implicada no conflito.Percebe-se, na narração, a articulação de conceitos como morte, dignidade e a diferença entre cultura e arte, possibilitando um espaço de reflexão sobre a banalização da violência e sobre os modos como a sociedade convive com ela.Dessa forma, o filme não se limita a registrar um episódio de guerra, mas propõe um gesto crítico. Transformando uma fotografia em experiência audiovisual, Godard evidencia que a arte pode atuar como resistência e denúncia, mesmo diante da barbárie. O curta, assim, provoca a reflexão acerca da necessidade de não tornar-se indiferente frente a violência normalizada em nossa sociedade.Luisa Ferreira da Rosa--------