O Signo do Caos (2003), dir. Rogério Sganzerla


“Recomendado para pessoas que sofrem de insônia” é uma das muitas frases de efeito, bordões e ditados populares que colorem a paisagem sonora escrachadamente dublada e decorada com o absurdo do filme “O Signo do Caos” de Rogério Sganzerla. Se você perguntasse para um punhado de pessoas na rua o que elas esperam da experiência de assistir um filme – lágrimas, animação, risadas, empatia, entendimento, empatia, encantamento infantil, excitação, etc. –, acredito que elas não descreveriam a minha experiência vendo esta obra de Sganzerla. Dentro deste enquadramento, então, devo concordar com o autor que descreve seu produto audiovisual como um “anti-filme” – perdão, digo, como “o anti-filme”.

Não tenho certeza do que afirmar sobre a obra, ou o que negar ou até mesmo questionar. Quando penso em escrever sobre o cinema, sou fragmentada em três: a atriz, a antropóloga e a professora. Então tentarei dizer um pouco sobre cada ponto de vista, mesmo que cada uma delas tenha visões cruas e inacabadas e mal resolvidas com o filme.

Como atriz preciso destacar o quão divertido deve ter sido trabalhar nesse projeto. As vozes canastronas, os movimentos exagerados, os figurinos glamourosos e a necessidade estranha de confiar no diretor que maquina em sua cabeça um produto final bizarro. Destaco como ponto positivo a performance etérea de Camila Pitanga que se move por um palco como uma obra de arte em uma exposição de museu barata e desconcertante. Assistir uma jovem Pitanga em seus vinte e tantos anos é fascinante para uma fã que cresceu a vendo em novelas e agora, em 2025, em meus vinte e tantos anos, pode assistir a atriz em um dos maiores papeis de sua carreiras como vilã Lola Argento na novela de estreia de Raphael Montes, “Beleza Fatal” (2025).

Como antropóloga, meus sentimentos e impressões são mais turvos e não se solidificam em uma impressão do que pode ser bom ou ruim. Desejava mergulhar em um mundo de “sacanagem” cinematográfica, como via tantos comentaristas escreverem sobre sua experiência com o filme, mas as menções de realidades de violência negra e um constante reverberar do “negro tema”, como diria Guerreiro Ramos, me proibiam de boiar sobre essas águas absurdas. Questiono: o quanto a sátira absurda de um Brasil de fachadas pós-ditadura é um limbo artístico antinegro no qual a raça e o racismo são apenas mais alguns traços da hipocrisia militar e não elementos essenciais da criação do sujeito brasileiro como é? Em outras palavras, quando tudo é absurdo e sacana e escrachado e irreal do som  montagem, por que o racismo ainda é palpável?

Por fim, como professora, procuraria entender com quem minha escrita dialoga e, por consequência, com quem o filme de que falo busca dialogar ou poderia ter boas trocas. Não sei dizer. Não é um filme para crianças ou para aquelas que buscam risadas fáceis ou empatia. Não é um filme para quem quer ação ou lágrimas, suspeitos ou sustos. Não é um filme longo, mas também não é um filme fácil. Não é um curta e definitivamente não é um filme difícil. Não é um filme. Ainda assim, que baita filme.

Jo P. Klinkerfus 

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Crítica - O Signo do Caos (2003)

Última obra de Rogério Sganzerla, O Signo do Caos é um filme que desafia convenções narrativas e mergulha no caos da produção cinematográfica e da censura no Brasil. Lançado em 2003, o longa reflete a estética experimental do cineasta e sua visão crítica sobre o cinema e a sociedade brasileira, expondo o autoritarismo do controle estatal sobre a cultura.

A trama acompanha agentes do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo Vargas nos anos 40, encarregados de reprimir produções estrangeiras que supostamente poderiam corromper os costumes nacionais. O chefe dos agentes, doutor Amnésio, examina rolos de filme identificados como parte de um documentário de Orson Welles sobre o Brasil. Ele considera o conteúdo inadequado por retratar uma imagem do país que o governo não deseja divulgar. Esse enredo escancara a forma como regimes autoritários se apropriam da cultura para moldar uma identidade nacional conveniente, decidindo o que pode ou não ser consumido pela população.

O diretor utiliza vários elementos para criar uma atmosfera de caos e desorientação, refletindo a opressão e a desordem causadas pela censura. A montagem é caótica: enquanto a primeira parte é preto e branco, a segunda surge colorida. A trilha sonora barulhenta, com aquele som abafado de filme antigo, torna difícil escutar tudo que os personagens estão falando, enquanto cenas se repetem e falas estão fora de sincronia. Tudo contribui para a construção dessa energia caótica. O título do longa já antecipa sua proposta: o caos não é apenas um elemento da narrativa, mas sua essência.

Enquanto assistia, percebi que algo em particular me incomodava muito. Zumbido de Abelhas. Fiquei me perguntando porque esse som estava tão presente na obra e percebi que o motivo era causar no público exatamente o que provocou em mim: incômodo. As abelhas podem ser vistas como uma metáfora para a desordem e o caos que permeiam o filme, reforçando a sensação de inquietação e opressão. Além disso, também lembram um enxame organizado, como um reflexo do próprio funcionamento do sistema ditatorial repressivo retratado.

A experiência é realmente desafiadora para o espectador. É preciso entrar de cabeça na proposta de Sganzerla para conseguir se divertir. Eu, que assisti ao longa sem nenhuma pesquisa prévia, cheguei a me perguntar se estava ficando louca quando ouvi a primeira repetição de diálogo. Embora sua abordagem não convencional possa afastar parte do público, O Signo do Caos é uma obra atrativa para aqueles que se interessam pelo cinema experimental e pela história da censura no Brasil. Afinal, o filme nos convida a refletir sobre as ameaças à democracia, que continuam mais presentes no nosso país do que gostaríamos.

Raissa Hübner

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Rogério Sganzerla define O Signo do Caos como um “antifilme”, e ao assistir, fica claro o porquê. A primeira metade acompanha um debate de críticos sobre It's All True, documentário inacabado de Orson Welles sobre o Rio de Janeiro nos anos 1940, interrompido pela censura. Filmada em preto e branco, com imagens granuladas que parecem saídas de uma câmera antiga da mesma época da obra de Welles, essa parte do filme constrói um mistério até intrigante. Os diálogos fragmentados reforçam a sensação de caos, levantando questões sobre censura, arte e sentido no cinema. Falas como "Vamos tirar o cinema do quarto de brinquedos", "A verdade é que ninguém conhece a verdade, essa é a verdade", e "Fecha os olhos pra ver" explicitam as temáticas.

A estrutura narrativa não convencional funciona nesse início: a montagem ignora a ideia de ritmo ou coerência, as ações não têm consequência direta de outra ação que antecede, e a repetição é usada como artifício proposital. Mas, conforme o filme avança, essa abordagem se torna previsível. O impacto inicial se desgasta, e a quebra de lógica, que antes parecia provocação, passa a soar apenas monótona.

Frases repentinas como "Tudo isso aí não presta" e "Isso está me parecendo uma grande safadeza" até traduzem o próprio sentimento de frustração do espectador, o que dá um toque autoconsciente do autor, mas nem isso traz um interesse renovado. O que antes era um jogo metalinguístico de certa forma instigante, agora perde força e se esgota em sua própria repetição intencional. O filme, que começa sendo uma experiência libertadora e caótica, acaba parecendo um ensaio experimental de um iniciante, em vez da última obra de um diretor. Me lembra Revolution 9, a tentativa de John Lennon de trazer a música avant-garde aos Beatles, que falhou. Faz sentido, a intenção de transgredir e sufocar com ruído é clara, mas a execução não sustenta a proposta.

Ainda assim, O Signo do Caos tem seus méritos e acerta ao transformar censura e alienação em forma e conteúdo. Quando Amnésio, o censor, diz que o filme não serve para ver, e é respondido "Se esse filme não serve para ver, então também a vida não serve para viver", o longa levanta um questionamento interessante: o cinema pode ser fluxo, sólido, real, mas também pode ser ruído, abstrato, caótico e, claro, muito entre um e outro. É uma obra que se cria na quebra de estrutura em si, na metalinguagem, por essa natureza, é difícil criticar um “antifilme”; talvez fosse melhor, então, escrever uma “anticrítica”.

Theo Seabra

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[texto 1]

O audacioso antifilme O signo do caos é a última obra do cineasta Rogério Sganzerla, onde se apresenta a chegada e a recepção/análise do filme estrangeiro It’s all true, pela censura do governo, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar da breve sinopse, o filme se [des]constrói a partir das considerações feitas pelas personagens e o efeito realista-demais da produção recebida – deixando, até a última cena, o gosto da espera de um Godot, que nunca chega, na boca. 

O caos, presente no título, não se apresenta na, somente, sucessão de novidades, como também no tédio da repetição exaustiva da estória ou da História. Repetição na/da música, das cenas, em opiniões das personagens e, até mesmo, na fala intrusa de papagaios enjaulados; novidade, na disposição e no sentido que tomam com o passar do tempo. 

Em uma primeira vista-de-paraquedas, o conjunto de cenas que pretendem iniciar um enredo – como a mecanicidade da leitura do verso de um poema – pode desagradar o público, uma vez que muitas ora não se findam, ora reiniciam, divergem ou continuam em outro instante dos 80 minutos de duração (tornando-se, a certo ponto, curiosamente excessivo). Trocas de cenas bruscas, os ambientes tomados pelo breu sufocante, ou de cinema – até tomar cor e outra visão da obra, no fim –, as falas cruzadas (as quais tomam a forma imprecisa de fantasmas), cheias de adjetivos, ambiguidades, por vezes agramaticais, tornam mais evidente o verdadeiro signo da [des]ordem – fazendo-o um “filmeco maciçamente” bom.

O ponto alto, com certeza, é a representação do conceito de brazilidade do auge do século XX – muitas vezes atrelada ao esteriótipo: o espírito de vira-lata (por Nelson Rodrigues), o homem cordial versus o malandro (por Sérgio Buarque e Antonio Candido), a mídia e o poder na dicotomia entre o nós e eles (inserida na política de boa-vizinhança); a crítica de uma burguesia à La Dolce Vita maquinando o consumo e a apreciação de cultura, realidade, de um país. Ademais, a presença e ideia de Arte: a vida parece a Arte?, ou ainda, “a vida comum não é cinema”, pois é “nonsense”, “menos que um filme” e “amador”(?). Entretanto, o que deixa a desejar é a interpretação tímida de alguns atores – o que deu um aspecto, sim, caótico, mas, ainda assim, disforme e com gargalos.

Por fim, é preciso levar-se em conta que

[texto 2]

O audacioso antifilme O signo do caos é a última obra do cineasta Rogério Sganzerla, onde se apresenta a chegada e a recepção/análise do filme estrangeiro It’s all true, pela censura do governo, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar da breve sinopse, o filme se [des]constrói a partir das considerações feitas pelas personagens e o efeito realista-demais da produção recebida – deixando, até a última cena, o gosto da espera de um Godot, que nunca chega, na boca. 

O caos, presente no título, não se apresenta na, somente, sucessão de novidades, como também no tédio da repetição exaustiva da estória ou da História. Repetição na/da música, das cenas, em opiniões das personagens e, até mesmo, na fala intrusa de papagaios enjaulados; novidade, na disposição e no sentido que tomam com o passar do tempo. 

Em uma primeira vista-de-paraquedas, o conjunto de cenas que pretendem iniciar um enredo – como a mecanicidade da leitura do verso de um poema – pode desagradar o público, uma vez que muitas ora não se findam, ora reiniciam, divergem ou continuam em outro instante dos 80 minutos de duração (tornando-se, a certo ponto, curiosamente excessivo). Trocas de cenas bruscas, os ambientes tomados pelo breu sufocante, ou de cinema – até tomar cor e outra visão da obra, no fim –, as falas cruzadas (as quais tomam a forma imprecisa de fantasmas), cheias de adjetivos, ambiguidades, por vezes agramaticais, tornam mais evidente o verdadeiro signo da [des]ordem – fazendo-o um “filme maciçamente” bom.

O ponto alto, com certeza, é a representação do conceito de brasilidade do auge do século XX – muitas vezes atrelada ao esteriótipo: o espírito de vira-lata (por Nelson Rodrigues), o homem cordial versus o malandro (por Sérgio Buarque e Antonio Candido), a mídia e o poder na dicotomia entre o nós e eles (inserida na política de boa-vizinhança); a crítica de uma burguesia à La Dolce Vita maquinando o consumo e a apreciação de cultura, realidade, de um país. Ademais, a presença e ideia de Arte: a vida parece a Arte?, ou ainda, “a vida comum não é cinema”, pois é “nonsense”, “menos que um filme” e “amador”(?). Entretanto, o que deixa a desejar é a interpretação tímida de alguns atores – o que deu um aspecto, sim, caótico, mas, ainda assim, disforme e com gargalos.

Magnus Ferreira de Melo

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O filme brasileiro “O signo do Caos” de 2003, dirigido por Rogério Sganzerla é, condizente ao título, caótico e disruptivo, principalmente para aqueles acostumados ao cinema popular e comercial. Com isso em mente, para um melhor aproveitamento, é recomendado que se assista com a descrença posta no mínimo já que não ocorre de maneira obviamente sequencial. A abertura da obra já começa destacada de contexto óbvio e junto de grande parcela do filme não se interessa em explicar os acontecimentos, simplesmente apresenta e deixa para ser interpretado. Se não fossem as raras exceções onde se mencionam órgãos do estado como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura de mídias no período do Estado Novo, dos nomes de algum personagem e das opiniões expressas pelos personagens ao longo da trama seria hercúleo entender onde se passa e sobre o que se trata o filme. 

A essa pergunta: Sobre o que se trata o filme? A resposta não é respondida diretamente pela obra, aliás pode tratar de coisas totalmente diferentes a depender da interpretação. De uma perspectiva mais ao pé da letra é sobre Amnésio, um oficial de um órgão de censura avaliando o material de um filme estrangeiro sobre o Brasil, aparentemente com o nome de “It’s All True”, e o vendo como abominável e sendo a favor de seu corte e ou descarte enquanto conversa com subordinados e colegas sobre o estado do cinema e da nação. Focando em outros aspectos da obra, ela pode ser entendida não só como um filme, mas como uma experiência cinematográfica autoconsciente. Por exemplo, os personagens são menos personagens na concepção tradicional e mais repetidores de frases de lugar comum, concepções e ideologias. Suas falas são muitas vezes sem sentido aparente e sem condizer com a “cena” em que os personagens se encontram, frequentemente lembrando monólogos de teatro. Isto pode ser entendido como crítica à população naquele período de censura e o turbilhão de perspectivas flutuando no entendimento sobre cinema, mídia, visibilidade e política nacionais, mas também pode ser visto como uma reconcepção do que se constitui obra, o que se constitui entendimento e o que se constitui cinema. 

Além da atípica estrutura da trama e enredo o filme também faz uso de imagens repetidas, sons ruidosos como de moscas e mosquitos junto a ritmos reconhecíveis como o jazz, comentários que podem ser entendidos como direcionados ao próprio filme ou ao cinema como um todo e papagaios dublados a repetir frases com ou sem sentido aparente.

Como um todo esta obra certamente se encontra em uma posição estranha e imprevisível, sempre à beira do entendimento, tendo características de teatro, de filme, de conversa, de delírio, de desabafo, de sátira e principalmente de caos. Simplesmente não há o que se espere e se concretize de maneira normal, um verdadeiro redemoinho, descontrolado,  potente e Incrível.

Davi Miranda Leite

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A obra “O signo do caos”, do diretor catarinense Rogério Sganzerla, foi seu último filme. O diretor o qualificou como um anti-filme, por seu caráter contra-hegemônico e provocativo sobre o modo de produção de filmes que vigora(va). O filme é de 2003.

O filme narra a retenção de um filme do diretor estadunidense Orson Welles por agentes de censura do governo.

O filme possui um desenrolar caótico, não há uma construção detida de personagens, os sons são constantes na maioria das cenas, com zumbidos, assovios, frases de efeito, onomatopeias, e reflexões provocativas. Há frases que se repetem em momentos diferentes. Não há sincronia entre o som das falas e o movimento dos lábios dos atores.

Os censores assistem a obra e fazem críticas ácidas contra o filme apreendido, como sendo “menos que um filme”, “contraproducente”, “nonsense”. Porém há censores que discordam da censura ao filme. Em determinado momento o censor “chefe” se recusa a ver o final do filme junto com outros agentes. “Veto ad eternum é pouco”, diz ele em determinado momento.

Destaque para a frase “vamos tirar o cinema do quarto de brinquedos”, ao fazer uma reflexão crítica sobre o status do cinema brasileiro.


Filipe Albino Ferreira

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Ultimamente, tenho assistido bastante a filmes que causam estranhamento. Estamos tão acostumados com o cinema de streaming que, muitas vezes, logo após assistir aos primeiros minutos de uma obra com uma narrativa não convencional, rapidamente desaprovamos o filme, sem dar a chance de ver com outros olhos e descobrir camadas que inicialmente não percebemos. 

O que nos incomoda, geralmente, tende a ser evitado. Mas será que, ao dar uma chance e aprofundar o olhar, podemos descobrir algo que nos desconcerta de forma positiva? Tenho pensado muito nisso.

Acho que, nesse caso, o incomodar é justamente o que Sganzerla queria. Signo do Caos não segue uma linha narrativa tradicional. É uma obra com uma narrativa fragmentada, onde o diretor escolhe uma linguagem visual caótica e desconexa para ilustrar a confusão de um Brasil em crise, capturando não só a realidade política, mas também o clima psicológico e emocional de um período bem turbulento. Sganzerla adota uma abordagem sensorial e abstrata, desafiando as convenções cinematográficas e criando uma experiência imersiva e desconcertante ao mesmo tempo.

A estrutura não linear e a fotografia do filme tornam a obra ainda mais interessante. O filme não entrega uma mensagem simples nem soluções prontas, mas propõe uma análise sobre a sociedade brasileira e suas contradições. Gostei bastante dos diálogos que parecem desconexos ou como se fossem citações. Essas escolhas estilísticas fogem completamente das convenções da narrativa clássica, o que torna o filme um desafio para quem não está acostumado com esse tipo de abordagem. Para mim, assistir ao Signo do Caos se tornou uma  experiência e tanto.  Como estudante de cinema, estou mais familiarizada com narrativas que se afastam dos padrões tradicionais, por isso não foi surpresa me deparar com um filme de Sganzerla.  Essa quebra de convencionalismo torna a experiência mais interessante e provocadora, e convida o espectador a considerar novas formas de contar histórias e repensar o cinema.  :) 

MACELA RAMPON

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Sob o signo do caos foi uma uma narrativa que eu jamais escolheria para assistir por vontade própria, Por favor, entendam-me com cuidado, não estou falando que o filme é ruim, apesar de achá-lo em partes, mas não é um filme do meu gosto - aqui insira filmes de comédias romântica ruins para xuxu. Eu preciso ser sincera, prestei atenção nos primeiros minutos, mas tenho considerações que considero pertinentes sobre a obra. 


Primeiramente, o filme é engraçado, não sei se esse era o objetivo, mas eu ri de algumas das falas ditas pelos personagens. Foram risadas modestas, mas sinceras. Achei a atuação dos personagens ruins, mas entendo que talvez para a época esse era o padrão, ou não. 


Me considero uma pessoa chata, no geral filmes preto e branco não me prendem, e assim como outros eu não me senti presa ao filme. Acredito que para quem seja entusiasta de filmes preto e branco seja um ponto positivo. 


Não consegui terminar de ver o filme, infelizmente ele me incomodou muito, qualidade, atuação, cores utilizadas e enredo não foram capazes de causar sentimentos bons, ou ruins. Na verdade eu não senti nada. Apenas queria que terminasse logo o filme. 

Lethicia Siqueira

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Logo nos primeiros segundos, O signo do caos me despertou a atenção pela sua estética que remonta às primeiras décadas do século passado e principalmente pela sua auto intitulação como “O anti filme”. Fiquei interessado  para descobrir o que seria a antítese de um filme, e isso me fez refletir sobre o que seria um filme. 

À primeira vista, senti um atordoamento pela cacofonia provocada pela música descompassada com a ação, pelas dublagens destoantes e pelo chiado contínuo, que muitas vezes sobrepuseram alguns dos diálogos iniciais. Foi uma experiência sensorial esquisita, mas curiosa.

Ao promover discussões sobre cinema como arte e como produto comercial a partir do filme de Orson Welles que está sendo projetado, O signo do caos se dirige também ao espectador, sobretudo àquele – como foi o meu caso – que foi tomado pelo estranhamento inicial. Por essas entrelinhas nem um pouco sutis, o longa expõe uma metalinguagem em tempo real ao pôr na boca dos personagens palavras que parecem falar conosco sobre aquilo que estamos assistindo. A irreverência estética e narrativa no decorrer do “anti filme” esmiúçam de forma caótica a sua pretensiosa alcunha autoproclamada. 

“Isto é e será cada vez mais cansativo” – dito após sucessivas repetições de cenas alternadas em uma montagem desconcertante – soa como uma provocação ao seu próprio público. O anti filme é autoconsciente em relação às reações que provoca.

Em meio a todo o caos, presente desde o título da obra, podemos ler pinceladas sobre a cultura e a arte brasileira, bem como sua posição no cenário mundial, refletir sobre os próprios conceitos de cultura e arte, e pensar nos efeitos de sua censura. Por quem, para quem e de que forma são ditadas as regras de como se fazer “boa arte”?

Toda arte é fruto de seu tempo, e a forma como ela dialoga com outros tempos aponta padrões que reverberam e se repetem na história, assim como as sequências exibidas e reexibidas em O signo do caos.

Nicolas Castro

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