Um cão andaluz (1929), Luís Buñuel e Salvador Dali

 


Mais razão e menos emoção é uma frase que dificilmente se aplica ao cinema de Luis Buñuel. O diretor hispano-mexicano, com uma filmografia de 41 filmes, é conhecido pelo pioneirismo em retratar os absurdos da psique humana. Uma de suas obras mais icônicas é o curta-metragem Um Cão Andaluz, lançado no final da década de 1920 em Paris, na França. Com co-direção de Salvador Dalí, um grande nome do movimento surrealista, o filme perturba e choca desde os primeiros minutos, levando o espectador a questionar: onde foi parar a lógica e o sentido? 

Para entender o filme — se é que essa é a proposta — é preciso considerar o contexto histórico da época de sua produção. Na década de 1920, Paris era o centro da vida cultural e artística, vivendo o auge das vanguardas européias, que buscavam romper com as tradições artísticas estabelecidas até então. O Surrealismo, uma dessas vertentes, propunha um afastamento da razão e da lógica em favor da expressão do inconsciente, através dos sonhos, desejos reprimidos e emoções. O movimento foi oficialmente estabelecido em 1924 com a publicação do Manifesto Surrealista, escrito por André Breton. Embora tenha se concentrado nas artes visuais, o Surrealismo também influenciou outras áreas artísticas, como o cinema de Buñuel. 

É justamente por quebrar com as expectativas e romper com as convenções que Um Cão Andaluz se tornou um marco na história do cinema. A parceria entre Buñuel e Dalí na produção foi além da técnica. A conexão entre o pintor e o cineasta também caminhou para o universo surreal e onírico. Não é à toa que o filme é interpretado como uma síntese de sonhos compartilhados por ambos. O resultado desses sonhos é uma colagem de imagens perturbadoras, que desafiam a realidade e são desprovidas de qualquer lógica. 

Depois da repulsa inicial causada pela cena de um olho sendo perfurado por uma lâmina, o filme segue com um padrão de planos que buscam capturar de volta a atenção da audiência. Um plano aberto contextualiza a cidade, a rua, a casa e por fim o quarto, local onde se passa grande parte do filme. Em outros tipos de cinema, essa sequência serviria como fio condutor para introduzir o enredo. Buñuel, porém, escolhe outros caminhos. Aqui, o elemento que parece tentar estabelecer unidade é uma caixa listrada que aparece como um easter egg: primeiro como um porta-gravatas, depois armazenando uma mão mutilada e, por fim, aparece destruída na areia na praia.

Formigas saindo de uma mão, padres sendo arrastados e burros mortos dentro de um piano. Tudo isso consegue fazer sentido no cinema de Luis Buñuel. Tentar encontrar significado ou uma explicação racional ao que é visto é um erro, especialmente porque é na contramão dessa ideia que vai a provocação de Buñel e Dali. Ao mesmo tempo que são inexplicáveis, os dois questionam a necessidade da razão em tudo o tempo todo. Às vezes é preciso deixar a explicação na alçada da loucura e é isso que faz o filme valer a pena. Nas palavras de André Breton: “Foi preciso Colombo partir com loucos para descobrir a América. E vejam como essa loucura cresceu, e durou. Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação.

ROBSON RIBEIRO DE SOUZA

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Um Cão Andaluz é um curta-metragem de 21 minutos, dirigido por Luis Buñuel e Salvador Dalí. O filme foi lançado em 1929 e é um marco do cinema surrealista, buscando questionar as convenções narrativas e visuais da época. A obra, em linhas gerais, produz o efeito de provar e perturbar aqueles que a assistem.

A narrativa do filme é extremamente fragmentada e não linear, colocando ao espectador o desafio de encontrar sentido em meio a uma sequência de imagens muitas vezes chocantes, seguindo a perspectiva do surrealismo. A famosa cena inicial, em que um olho é cortado por uma lâmina, já traz logo no início o tom provocativo e perturbador que se estabelece por toda a obra. O curta leva o espectador para um espaço em que a lógica é subvertida e o absurdo prevalece.

A estética é marcada por um forte contraste entre luz e sombra, que acentua o impacto emocional presente nas imagens. A obra usa ângulos de câmera inusitados/não convencionais e transições abruptas, que intensificam a sensação de desconforto, junto a trilha sonora que também é destacável.

A obra não apresenta respostas fáceis ou uma narrativa de único entendimento. O objetivo, se tratando do surrealismo, é realmente provocar e instigar o confronto e o desconforto. Os temas presentes no filme, mesmo que de maneira isolada, reforçam essa luta entre desejo, medo e repulsa, através da exploração do grotesco e do absurdo em suas cenas

Um Cão Andaluz é uma experiência cinematográfica que não busca um simples entretenimento. Pelo contrário, é um convite à reflexão e análise, sendo um marco e referência dentro da estética surrealista no cinema. Ao romper normas e questionando a realidade e as convenções sociais, a obra se torna atemporal e relevante até os dias de hoje, quase 100 anos após sua produção.

 

Kauê Alberguini

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Provocação e Surrealismo na Revolução de Buñuel e Dalí em Um Cão Andaluz

Matheus Bastos

“Um Cão Andaluz” (1929), dirigido por Luis Buñuel e coescrito por Salvador Dalí, é um dos mais provocativos e emblemáticos exemplos do surrealismo no cinema. A obra é o resultado de uma colaboração artística única, em que o objetivo era subverter a lógica narrativa tradicional, seguindo a máxima surrealista de desconstruir o que é considerado racional e previsível. O filme se tornou uma referência essencial para o movimento surrealista, apoiando-se em imagens e situações que desafiavam os limites da mente humana e do que era aceitável na tela na época.

Buñuel e Dalí se inspiraram em sonhos e imagens aparentemente sem sentido, rejeitando deliberadamente qualquer tentativa de narrativa convencional. O resultado é um curta-metragem repleto de cenas que chocam e desorientam, como a icônica sequência de abertura, onde um olho humano é cortado com uma navalha. Essa cena, explícita e perturbadora, exemplifica perfeitamente o espírito de provocação dos roteiristas. Outro momento emblemático ocorre quando um homem arrasta dois pianos de cauda, que por sua vez estão presos a cadáveres de burros, algo que desafiava qualquer lógica narrativa e, ainda assim, prendia a atenção do espectador com um misto de fascínio e repulsa.

Apesar de ter sido ignorado por alguns círculos mais conservadores no início, Um Cão Andaluz foi imediatamente reconhecido como uma obra-prima entre os adeptos do surrealismo. O filme não chegou a receber prêmios tradicionais, mas seu impacto no mundo artístico foi profundo. Ele serviu como uma espécie de manifesto visual do movimento surrealista, recebendo reconhecimento nos círculos de arte europeus e influenciando artistas e cineastas por gerações. Mais tarde, críticos e cineastas de renome passaram a celebrá-lo como um marco revolucionário na história do cinema, reconhecendo sua importância no desenvolvimento da linguagem visual experimental.

A desconexão entre os atos de Um Cão Andaluz é um dos aspectos mais debatidos da obra. Não há uma linha narrativa clara; em vez disso, as cenas se sucedem como fragmentos de sonhos, sem relação causal aparente. Por exemplo, o filme passa abruptamente de uma cena em que um homem observa sua mão, que inexplicavelmente contém formigas saindo de uma ferida, para outra em que duas figuras na rua encaram algo indefinido com expressões de espanto. Essa sequência de imagens foi deliberadamente construída para perturbar e desafiar a necessidade do espectador de buscar sentido. Dalí e Buñuel insistiram que não havia explicações ou simbolismos a serem decifrados, o que é, paradoxalmente, um convite à interpretação subjetiva.

Com o passar do tempo, Um Cão Andaluz continua a ser um fenômeno estudado e debatido no meio cinéfilo. É uma obra que obriga o público a questionar os limites do cinema como arte narrativa e visual, desafiando as expectativas convencionais. O legado do filme é imenso, não apenas por suas imagens inesquecíveis e técnicas inovadoras, mas também por sua audácia em questionar o que o cinema pode ser. 


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Um Cão Andaluz 

(Luis Buñuel) 

MATHEUS WELTER 

Um Cão Andaluz (1929), dirigido por Luis Buñuel em colaboração com Salvador Dalí, é um marco do cinema surrealista que desafiou as convenções narrativas e estéticas de sua época. O curta-metragem, com apenas 17 minutos, dispensa lógica, criando uma experiência visual que provoca e fascina o espectador. 

A obra abre com uma das cenas mais emblemáticas do cinema: uma navalha cortando o olho de uma mulher, simbolizando a ruptura com o olhar tradicional e a visão racional do mundo. Esse gesto radical prepara o terreno para uma sucessão de imagens muitas vezes perturbadoras, que resistem a qualquer tentativa de interpretação direta. 

Buñuel e Dalí rejeitam narrativas tradicionais, preferindo explorar o inconsciente humano, inspirado pelas teorias psicanalíticas de Freud. Sonhos e realidade se fundem em cenas que parecem fluir sem conexão lógica, mas que evocam sentimentos profundos de desejo, medo e desconforto. 

Os símbolos são abundantes, mas nunca óbvios. Formigas saindo de uma mão, um homem arrastando pianos com cadáveres de burros e a transformação de personagens desafiam o espectador a buscar significados, apenas para perceber que talvez eles não existam. Essa é a força do filme: ele não busca respostas, mas sim questionar a própria necessidade delas. 

A trilha sonora, adicionada posteriormente, complementa a estranheza das imagens. A ausência de diálogos dá espaço à contemplação e ao impacto visual puro. 

Um Cão Andaluz é menos um filme e mais uma experiência sensorial e intelectual. Ele permanece relevante por sua ousadia e por abrir caminho para uma nova forma de arte cinematográfica, que valoriza a subjetividade e o irracional. É um lembrete

de que o cinema pode ser tão livre e provocativo quanto qualquer outra forma de expressão artística.


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Um Cão Andaluz e a beleza do desconexo

Por Lívia Goulart

Se você gosta de cinema que te faz pensar, te tira da zona de conforto e te deixa com aquela sensação de "nossa, que loucura!", então conheça a obra do surrealismo chamada Um Cão Andaluz.  O curta-metragem, criado por Luis Buñuel e Salvador Dalí no auge do movimento surrealista, é um manifesto visual que explora o inconsciente e desafia a racionalidade. São pouco mais de 16 minutos que chocam, intrigam e provocam discussões acerca de sua narrativa (se é que pode-se chamar assim).

Um Cão Andaluz foi criado para quebrar completamente as regras do cinema convencional, que em sua maioria exige que cada elemento na tela se encaixe em uma narrativa lógica e coerente, tendo conexão entre início, meio e fim. Imagine um filme que te joga em um mundo de sonhos, pesadelos e imagens bizarras, sem nenhuma explicação lógica. É assim que o curta te pega de surpresa. 

A famosa cena inicial, com um olho sendo cortado por uma lâmina de barbear, é só o começo de uma viagem visual que o curta tem a apresentar. Buñel e Dalí literalmente trouxeram sonhos para as telas. E como sonhos não necessariamente têm estrutura formal, assim eles fizeram. Enquanto assistia lembrei daqueles memes de “todo sonho tem um significado. meu sonho:”.

Além daquela cena do olho, o filme entrega símbolos bizarros, como formigas saindo da mão de um homem, um ciclista caindo sem explicação, dois padres ao lado de dois pianos de cauda com animais mortos em cima. Também tem uma mulher sendo tocada de maneira invasiva, um passeio na praia, e corpos enterrados na areia. É uma sequência de imagens que causam estranhamento, curiosidade e uma certa aflição por se tratar de atos que fogem do nosso comum.

E tudo isso aparecendo na sua tela de forma desconexa, ao som de uma trilha sonora que cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo dramática e estranha, o que intensifica o efeito surreal das imagens. A seleção musical também não segue uma lógica convencional e isso vai contribuir para o sentimento de desconexão que permeia o filme.

Nos primeiros minutos já é possível ter ciência de que, de fato, não há encaixe na história e que é praticamente impossível saber qual é o próximo passo dos personagens. Apesar disso,  fica uma necessidade, meio instintiva, de encontrar sentido nas coisas. Então é quase inevitável tentar interpretar as imagens e preencher os espaços vazios com algo que faça sentido para cada um.

A forma como o curta te obriga a questionar tudo o que você acha que sabe sobre cinema e sobre a realidade, ausência de uma narrativa linear, a força das imagens e a liberdade de interpretação fazem com que cada espectador tenha uma experiência única. Algumas pessoas podem achar a bizarrice frustrante, outras vão se encantar com a originalidade das imagens, e há quem se dedique a decifrar cada detalhe. A única certeza é que o que você vai ver vai ficar gravado na sua memória. O filme nos convida a mergulhar em nosso próprio inconsciente, a explorar nossos medos, desejos e angústias. É um convite para questionarmos o que significa ser humano e qual o papel da arte em nossas vidas, seja você um amante do cinema ou apenas um curioso.


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Um Cão Andaluz: o nome do filme já diz tudo, ou quase nada 

Por Iago Carvalho 

Um Cão Andaluz (1929) é aquele filme que, sinceramente, vai te deixar com mais perguntas do que respostas. Não é o tipo de filme que você vai assistir esperando entender tudo, muito pelo contrário. Logo no começo, a famosa cena do olho sendo cortado já te avisa: o filme não vai seguir as regras. Não faz sentido imediato, é algo totalmente chocante e bizarro, mas é isso que ele busca desde o início – te deixar desconfortável. 

Depois, a coisa fica ainda mais estranha. Tem uma cena em que aparece uma mão que surge do nada, e não tem explicação. Não é como em outros filmes que você consegue tentar ligar os pontos depois; aqui, a mão simplesmente aparece e some, sem nenhum contexto. O filme vai te empurrando de uma cena para outra, sem se preocupar se você está entendendo o que está acontecendo. 

Uma das partes mais bizarras é quando vemos um homem caindo em um poço de formigas enquanto uma motocicleta passa por ele. É uma cena sem lógica aparente, mas que, de alguma forma, te prende. O personagem parece completamente à mercê de algo que não pode controlar, e você se sente como se estivesse no meio de um pesadelo sem explicação. 

As mudanças rápidas de cena são outro ponto curioso. O filme não se importa com continuidade ou explicação. Você está em um lugar, e de repente, é levado a outro, sem saber como ou por quê. Isso cria uma sensação de confusão que parece ser intencional – o filme não quer que você entenda tudo de cara. 

E as imagens, como o piano com os dedos cortados ou os corpos cobertos de areia, são cheias de simbolismo, mas o filme não faz questão de te dizer o que elas significam. Ele só te coloca diante delas e espera que você tire suas próprias conclusões. 

No fim das contas, Um Cão Andaluz é um filme que te desafia a ver além da superfície e a aceitar o caos. Não é uma história comum, nem fácil de entender. Ele joga com a ideia de surrealismo, te empurrando para um mundo onde a lógica não existe. É desconcertante, mas, ao mesmo tempo, provoca uma reflexão sobre o que estamos acostumados a ver no cinema.

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CEM ANOS DEPOIS: POR QUE CONTINUAMOS FASCINADOS COM UM CÃO ANDALUZ (1929)? 

Ana Vitória Farion1 

Como realizar uma crítica a um sonho? Essa foi a primeira pergunta que me veio à mente ao terminar de assistir "Um Cão Andaluz", de Luis Buñuel e Salvador Dalí. Este filme francês de 1929, cuja inspiração primordial foram os sonhos de seus idealizadores, além de ser um marco pioneiro no cinema surrealista, é lembrado até hoje por sua cena mais memorável. É difícil encontrar alguém minimamente interessado na história do cinema que nunca tenha ouvido falar da célebre cena em que um homem lacera o olho de uma jovem mulher com uma navalha de barbear. Aliás, é muito provável que, mesmo entre os amantes de cinema, muitos conheçam a cena da navalha sem saber sua obra de origem, ou mesmo que o homem que segura a lâmina é o próprio Bunuel. No entanto, reduzir a obra "Um Cão Andaluz" apenas ao seu pioneirismo ou ao impacto de uma cena desconcertante - ainda que marcante para cultura popular - pode não fazer justiça ao trabalho desenvolvido na obra por seus idealizadores e elenco. 

Como um filme surrealista, "Um Cão Andaluz" desafia o crítico cinematográfico a pensar fora dos moldes do convencional. À primeira vista, é claro, em termos estéticos o filme não se distancia muito dos padrões da época. Seus efeitos práticos, frequentemente perturbadoras e inquietantes, ajudam a construir uma narrativa delirante enquanto a fotografia em preto e branco enfatiza seu tom dramático, sombrio e onírico, ainda que esta possa ser mais uma marca temporal do que uma escolha estilística para a obra. 

O verdadeiro desafio, mas também a maior recompensa ao analisar "Um Cão Andaluz" reside na sua narrativa. O filme é composto por uma série de cenas individualmente funcionais, progressivamente conectadas de maneiras imprevisíveis, com uma montagem dinâmica que se aproveita dos mais diferentes planos e durações. Abordagem que permite que o filme surrealista vá além do cinema tradicional, proporcionando ao espectador a experiência sentir-se presenciando um sonho. Os cortes, o ritmo, as transições entre cenas, o uso da trilha sonora e a edição que brinca com a localização temporal dos eventos são realizados de maneira sagaz, que re intriga o espectador a cada novo corte. 

Não seria possível deixar de tratar também aqui daquele que é um dos maiores trunfos do filme: o elenco. Os atores de O Cão Andaluz expressam emoções das mais sutis às mais 1 Graduanda em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

intensas, de modo tão orgânico e eficaz que é quase possível esquecer que estamos aqui falando de um filme mudo, onde o conteúdo de todo e cada diálogo se dá através de pistas visuais. Simone Mareuil, que interpreta a personagem identificada apenas como “jovem garota” e que se desenvolve como uma protagonista para o filme, talvez seja o grande destaque, com expressões faciais marcantes e uma forte presença em tela em todas as suas cenas. E mesmo Brunel, que aparece apenas nos primeiros minutos de filme, causa uma impressão em tela o suficiente para marcar a memória.  

Entretanto, apesar de seu pioneirismo e cenas marcantes e qualidade geral da obra já serem razão para o filme ainda ser relembrado com admiração quase um século depois de seu lançamento, existe um outro motivo pelo qual "Um Cão Andaluz" se mantém cativante ainda nos dias de hoje. Mais do que na forma e qualidades técnicas, o filme atrai o espectador pelo seu conteúdo. A manifestação do subconsciente individual é apenas uma das facetas que a psicologia e a psicanálise atribuem aos sonhos. Cada sonho, individual e coletivamente, reflete a memória, vivência, cultura e estado psicológico e emocional de quem o vive, reproduzindo uma experiência mental, emocional e sensorial que pode ser confusa ou racional, mas sempre capaz de provocar emoções. 

Ao estabelecer em uma narrativa, ainda que confusa, um sequencial de sonhos, Bunuel e Dali se comunicam com o espectador oferecendo uma interpretação subjetiva de seu tempo e da sociedade em transformação ao seu redor, que, longe de um apanhado de aleatoriedades, oferece uma base sólida para a reflexão e a interpretação. A perda, a morte, o amor, o trágico, a religião,a objetificação do corpo masculino, a curiosidade mórbida, os impulsos violentos e a quebra das expectativas sociais são apenas alguns dos temas identificáveis em Um Cão Andaluz, conectando espectadores e idealizadores a partir de temáticas ainda tão centrais à nossa sociedade hoje quanto no tempo de sua produção. 

Referência: 

Um Cão Andaluz. Direção de Luis Buñuel. Roteiro de Luis Buñuel e Salvador Dalí. França, 1929.


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