Guerra Civil (2024), dir Alex Garland - por Francisco Neves; Iago Carvalho; Kaue Alberguini; Maria Eduarda Martins, Matheus Bastos e Matheus Welter
O longa "Guerra Civil", com direção de Alex Garland, é uma produção que combina elementos de filme com um contexto de guerra nos Estados Unidos. A história segue um grupo de jornalistas que partem de Nova York para Washington, D.C., em meio a uma nova guerra civil, com a finalidade de realizar uma entrevista com o presidente. Kirsten Dunst, Wagner Moura, Stephen McKinley Henderson e Cailee Spaeny compõem o elenco.
A avaliação tem sido diversificada, destacando-se aspectos positivos e negativos. Por um lado, a construção audiovisual do filme é bastante elogiada. Garland emprega som e imagens de maneira marcante na construção dos personagens e da história. As performances de Kirsten Dunst e Wagner Moura são especialmente impressionantes. No IMDB, o filme recebeu a nova 7/10.
Porém, alguns analistas indicam que o filme não consegue desenvolver completamente sua premissa. Apesar de Garland fornecer informações suficientes para compreender o cenário da guerra, ele não se detém em detalhes específicos, o que pode causar confusão em alguns espectadores. A história principal sobre os jornalistas em uma viagem de carro pode parecer desvinculada do contexto da guerra civil, sendo essa uma das críticas dos cinéfilos. Mas, por outro lado, o filme utiliza dessa realidade paralela para mostrar que, apesar do epicentro da guerra estar a todo vapor, a vida das pessoas continua. Neste caso, o filme foca neste núcleo de jornalistas, porém, também mostra outros grupos que vivem um pouco mais distantes da guerra, sendo afetados por questões econômicas, mas não por conflitos diretos. É possível perceber um comportamento hostil por parte das pessoas, foco em necessidades básicas e esquecimento de questões mais complexas da evolução humana, como artes e entretenimento. Porém, isso exemplifica exatamente o que acontece em um estado em guerra.
Ademais, a interação entre os protagonistas é um destaque do filme. Stephen McKinley Henderson dá vida a Sammy, um jornalista experiente e sábio, enquanto Cailee Spaeny é Jessie, uma jovem fotógrafa que enxerga em Lee uma fonte de inspiração. O vínculo entre Lee e Jessie é um dos elementos mais cativantes do filme, com sequências que ressaltam o contraste entre a dureza de Lee e a ternura de Jessie. Além disso, Wagner Moura é um destaque positivo, tanto por ser um brasileiro em um grande filme de Hollywood, quanto por sua atuação impecável e natural.
Durante cenas de tensão, a câmera costuma usar ângulos baixos e planos fechados, gerando um sentimento de claustrofobia e urgência que espelha o estado emocional dos personagens. A divisão do enredo em capítulos, cada um concentrando-se em diferentes fases da trajetória dos jornalistas, contribui para a organização da história e mantém a dinâmica do filme. Adicionalmente, Garland emprega luz natural e tonalidades desbotadas para transmitir o clima sombrio e desolado do cenário de guerra. A música ambiente, formada por sons diegéticos e melodias minimalistas, enriquece a ambientação, intensificando o sentimento de realismo e envolvimento. Estes componentes do cinema se unem para proporcionar uma experiência visual e emocionalmente marcante ao público. As cenas de conflito são realistas, com utilização de câmeras em movimento constante, quase como uma filmagem documental de uma guerra.
Em suma, "Guerra Civil" proporciona uma experiência sensorial intensa, apresentando excelentes atuações e uma estrutura audiovisual impressionante. Contudo, pode não agradar espectadores mais críticos quanto a lealdade à história principal.
Marina Soares da Silva
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GUERRA CIVIL
FRANCISCO NEVES
Grandioso e hollywoodiano. Guerra Civil, longa lançado em 2024, possui uma ótima e realista premissa: os Estados Unidos estão rachados e lutam entre si. Dirigido por Alex Garland, a obra conta com um ótimo e diverso elenco que acompanhamos ao longo das 1h50 de duração do caos estadunidense.
Na trama, o espectador acompanha uma guerra civil sangrenta que assombra o território estadunidense. Os jornalistas Lee (Kirsten Dunst), Joel (Wagner Moura), Sammy (Stephen Henderson) acompanhados pela jovem aspirante Jessie (Cailee Spaeny) buscam uma entrevista com o presidente ditador do que restou dos EUA. Com rodovias destruídas, os quatro devem seguir uma rota perigosa até o coração daquilo que antes fora a maior economia do mundo, Washington D.C.
O filme é repleto de contrastes. Logo no começo seguimos o presidente, propositalmente não nomeado (Nick Offerman), se preparando para um discurso de vitória. Sua figura é pintada como grande e vitoriosa com as luzes e uma oratória de qualidade. Entretanto, ao longo da trama é observado que a personalidade do homem no poder é mais complexa e até, egoísta.
Outro contraste explorado é entre a desumanizada Lee e a jovem cheia de emoções Jessie. Tendo acompanhado inúmeros conflitos e cenas horrendas ao longo de sua carreira, Lee já se acostumou com o sangue e a tristeza ao seu redor, expressão poucas, ou então nenhuma, emoção ao longo da trama com uma ótima atuação de Kirsten Dunst. Já Jessie, acaba de chegar nesse péssimo ambiente e deve lidar com o choque e a realidade que são os conflitos. Sua emoção é muito bem explorada com a atuação de Cailee Spaeny, gerando simpatia do público.
O querido Wagner Moura se destaca com seu carisma e faz uma ótima dupla com Kirsten Dunst. O jornalista brincalhão e sincero serve tanto para momentos de descontração, quanto para momentos sérios, de luto e emocionantes. Sua figura é complexa e apresenta muitos viés ao longo da trama.
O filme possui uma ótima direção de imagem. Garland aproveita a premissa de fotojornalistas a seu favor, e apresenta as fotos tiradas por esses ao longo do longa, de uma maneira diferente e surpreendente.
Guerra Civil pode desapontar quem procura um filme que concede tantas informações sobre quem são as facções e seus motivos, focando em outros pontos para continuar a se desenvolver. O filme não chega a ser “apolítico”, e justamente utiliza isso a seu favor para explorar a semelhança entre todos os lados da guerra.
Outro ponto forte do filme é o som. Em cenas de conflito, tiros e explosões são seguidas por um silêncio extremamente realista, que reflete o choque daqueles presentes nesse cenário aterrorizante. O silêncio também é explorado em cenas de grande emoção, deixando o espectador a prestar atenção totalmente no que é mostrado.
Dessa forma, Guerra Civil é um dos bons filmes lançados no ano de 2024. A experiência diferente pode afastar alguns, mas vale uma assistida para tirar suas próprias conclusões. A direção de Alex Garland se torna cativante e atraente. Com performances marcantes do elenco, uma fotografia ótima e sons marcantes, o filme se destaca entre outros filmes de guerra, ou até anti-guerra que vêm sendo lançados nos últimos anos.