Almofada de Penas (2018), dirigido por Joseph Specker Nys




Produzido em Florianópolis, “Almofada de Penas” é uma animação em stop motion dirigida por Joseph Specker Nys com colaboração do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). O curta foi lançado em 2018 e tem duração de 12 minutos, sendo inspirado no conto homônimo do autor uruguaio Horacio Quiroga.

A obra conta a história de Alicia que logo após o seu casamento, contrai uma doença de certa forma inexplicável, ao mesmo tempo que vê seu marido, Jordão, estar distante e indiferente ao que acontece. A doença vai fazendo a mulher misturar momentos de alucinações e sonhos com a dura realidade. Ao longo da trama, as cenas apresentadas junto a trilha sonora utilizada criam um ambiente sombrio e de desconforto, acompanhando o sofrimento de Alicia.

A doença, porém, associa-se à angústia de Alicia que, ao casar-se com Jordão, se depara com um temperamento rígido e frio do marido. A ambientação das cenas e a caracterização dos personagens contribuem para o estado de melancolia e desamparo que vivia Alicia. Ao mesmo tempo que os personagens estão em um lugar que pode ser visto como sofisticado, os espaços da casa são grandes, pouco decorados e com temáticas frias, refletindo em certa maneira o comportamento do marido e o isolamento da esposa.

A paleta de cores, neutra e fria, junto a baixa iluminação, traz um ar sombrio à cena. Essa combinação amplia a sensação de medo, solidão e fragilidade vivida por Alicia. As expressões faciais dos personagens são bem marcantes, ilustrando suas personalidades e destacando a profundidade psicológica da narrativa.

O curta-metragem, dessa forma, se mostra interessante como uma maneira de refletir sobre amor e terror, nos colocando dentro da cena de tensão e tristeza em que vivia Alicia. Além das reflexões levantadas, é relevante destacar que a obra, uma produção catarinense, foi a única do estado no ano de seu lançamento a participar do Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, na França, um dos maiores eventos do mundo na área, valorizando a produção cultural local.

Kauê Alberguini

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Quando a lua de mel se torna um pesadelo, as fantasias sobre a vida a dois são desfeitas pelo tratamento frio de Jordão, seu marido, e uma doença terrível sem explicação atravessa a relação. Alícia passa os dias em uma cama, mesclando realidade e alucinações monstruosas. Esse é o enredo do curta-metragem catarinense “Almofada de Penas”, do diretor Joseph Specker. Escrito com base no conto do escritor uruguaio Horácio Quiroga, a curta foi lançada em 2018 no Festival Internacional de Filmes de Animação de Annecy, na França. 

Depois do casamento e da lua de mel, uma ânsia de viver as experiências da vida a dois é o sonho de qualquer novo casal. Porém, quando o amor intenso que existia passou a não ser correspondido, é nesse momento que as pessoas se dão conta de que o amor nem sempre é sinônimo de liberdade. É exatamente por isso que passa a protagonista de “Almofada de Penas”; Afinal, a trama já deixa claro, logo no início, que o personagem não estava mais feliz nessa relação. Apesar da explicação sobre seu quadro de saúde vir à tona ao fim do curta, com a personalidade da criatura monstruosa em seu travesseiro, a angústia vivida por Alícia, a prisão em torno de si mesma e o mergulho em um mundo de alucinações revelam que a criatura monstruosa não é apenas uma explicação, mas uma metáfora para aquilo que dominava também a sua psique. 

Por ser um filme de curta duração, com pequenos diálogos e baseado em um conto da literatura de terror, os recursos de ambientação tiveram papel essencial na construção de uma atmosfera psicológica densa. Um dos mais notáveis é a cor, que abrange tons de azul escuro e melancólico em diversas cenas. Após a morte do protagonista, esses elementos, incluindo as chuvas e trovões, são substituídos por um dia de sol e tons pastéis, o que chama atenção para a personalidade fria do marido, que não transparece nem mesmo durante o luto. Outro ponto de destaque é o contraste entre os elementos visuais e sonoros, que dão ênfase ao período pré e pós-morte de Alícia. A primeira é introduzida por um corvo, remetendo ao mau presságio, e a segunda, pelo canto leve de um pássaro qualquer ao raiar do dia. 

Em resumo, “Almofada de Penas” é um filme que cumpre bem sua proposta. Embora seja uma adaptação, a animação consegue traduzir para o universo visual a atmosfera sombria e inquietante descrita por Horácio Quiroga, mantendo a essência do conto. Com uma narrativa bastante simbólica e estética cuidadosa, o curta-metragem proporciona ao espectador uma experiência completa, sem deixar pontas soltas ou perder a profundidade psicológica.

ROBSON RIBEIRO DE SOUZA

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“Almofada de penas” é um filme de animação florianopolitano, curtametragem (12 min), lançado em 2018, com direção e roteiro de Joseph Specker Nys. A obra se baseia no conto de horror “O Travesseiro de Pena” de Horacio Quiroga. Existem muitas semelhanças entre as obras, mas a original é, certamente, mais descritiva/explicativa/fechada – o que não a torna, necessariamente, melhor.

A narrativa prende o expectador desde o começo, no qual se apresenta uma paisagem gótica, com uma arquitetura clássica (séc. XIX), acompanhada de uma trilha sonora maravilhosa (destacando-se o som do violão). Neste cenário, somos apresentados à intrigante protagonista, Alicia. A semiótica da noite, de Alicia “em branco” (pálida e com roupas brancas) e do corvo, explicita a morte que paira a residência da mulher. A personagem segue seu companheiro, Jordão, até uma igreja, na qual ouve os votos de casamento e se assusta quando vai ser beijada. Alicia acorda assustada, em sua cama, e é acalmada por seu marido. Essa sequência de cenas demonstra a disposição do filme de brincar com realidade e ilusão e deixar questões em aberto.

Descobrimos, através do médico, que Alicia está em estado terminal, não explicações para a enfermidade dela e os medicamentos não funcionam. O marido Jordão tem personalidade séria, fechada e fria, e não demonstra muito apego à esposa, mas se importa com ela de alguma forma. Em um dado momento do filme, com as visões de Alicia e o comportamento de Jordão, é possível questionar se ela era feliz no casamento antes da enfermidade, ou mesmo se teve arrependimento por se casar.

A morte de Alicia fica implícita na abordagem do filme – quando amanhece, a mulher não está mais em sua cama e o marido está triste em uma cadeira próxima à cama. Tal proposta se conecta muito bem na atmosfera misteriosa da obra.

O final possui uma das melhores cenas do filme – Jordão vê sangue no travesseiro da esposa, ouve um barulho estranho, rasga o objeto e se depara com uma espécie de parasita ensanguentado (com o sangue de Alicia); ele fica furioso e golpeia, com um pedaço de vidro, o monstro, espalhando sangue para todo lado; mas, tudo era uma ilusão e, na verdade, Jordão apenas rasgara a almofada de penas de sua falecida esposa. 

As quebras de expectativas e o tom misterioso de “Almofada de penas” são seu grande trunfo. O roteiro faz com que o expectador de fato se importe com a protagonista e com a história. A proposta de fazer a trama localizada, em uma residência, na última noite de Alicia, é esplendida e original. Se existe algum ponto negativo no filme é que se precisa prestar bem atenção na obra para entender o contexto, ou conhecer a obra de referência.


Referências:
ALMOFADA de penas. Direção: Joseph Specker Nys. Florianópolis, 2018. 1 filme
(12 min).
FELTRIN, Tatiana. [CONTO] O Travesseiro de Pena (Horacio Quiroga) | Mês do Horro -
Ano V | Tatiana Feltrin. You Tube, 15 out. 2017. 5min34s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GQurzLC0tDc. Acesso em: 29 set.2024.  


                                                                                                           Pedro Henrique Ribeiro Gonçalves
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O curta-metragem "Almofada de Penas", dirigido por Joseph Specker Nys e produzido em Florianópolis com o apoio do Instituto Federal de Santa Catarina, é um dos destaques da animação brasileira recente. Lançado em 2018, o filme é baseado no conto homônimo do uruguaio Horacio Quiroga e explora de forma intensa o terror psicológico em stop motion. Com apenas 12 minutos, a obra consegue criar uma atmosfera envolvente de tensão e melancolia, com um visual forte e uma narrativa sombria.

A história segue Alicia, uma jovem recém-casada que, de maneira misteriosa, começa a adoecer. Enquanto sua saúde física piora, seu marido, Jordão, se mostra cada vez mais frio e distante. O ambiente da casa – grande, vazio e com uma decoração impessoal – reflete a frieza de Jordão e o isolamento de Alicia, aumentando a sensação de solidão que ela sente. O sofrimento de Alicia é tanto físico quanto emocional, e isso é evidenciado pelas alucinações e sonhos assustadores que ela tem ao longo da trama.

As cores neutras e frias, junto à iluminação baixa, criam um clima visual que reforça o desconforto e a vulnerabilidade de Alicia. Esses elementos visuais, somados à trilha sonora, que mistura o sombrio com o melancólico, ajudam a construir um ambiente de terror psicológico, sem recorrer a sustos fáceis ou violência exagerada.

A simplicidade dos cenários, combinada com a riqueza nas expressões faciais dos personagens, é um dos pontos altos do filme. Em "Almofada de Penas", o horror vai além da criatura que aparece no travesseiro de Alicia – como mostrado no final –, e se transforma numa metáfora sobre um casamento infeliz e as expectativas frustradas de um amor sufocante. O parasita que suga a vida de Alicia é, ao mesmo tempo, uma criatura literal e uma representação da opressão emocional que ela enfrenta.

Um dos momentos mais marcantes do curta é o desfecho, em que Jordão, num acesso de desespero, rasga o travesseiro de Alicia e encontra a criatura dentro dele. A cena, com forte impacto visual e simbólico, cristaliza toda a tensão psicológica do filme, deixando o público a refletir sobre a linha entre realidade e alucinação, e sobre a verdadeira natureza da doença de Alicia.

O curta se destaca como uma produção catarinense de alta qualidade, colocando o cinema local em evidência e mostrando o grande potencial da animação brasileira no cenário internacional.

No geral, "Almofada de Penas" é um filme impressionante, que levanta questões sobre amor, medo, solidão e a fragilidade humana. A estética sombria, a narrativa rica em simbolismo e a construção cuidadosa da história garantem uma experiência completa e envolvente, que fica na mente do espectador mesmo após o fim.

Laura Rech 
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Baseado na história de Horácio Quiroga, o longa-metragem de animação "Almofada de Penas" tem como objetivo aprimorar o encantamento e os detalhes relacionados ao trabalho manual ao fundir artesanato tradicional com tecnologia de impressão 3D.
O filme enfatiza a complexidade do processo ao demonstrar a construção de quatro cenários principais, que se multiplicam para quarenta ao longo da história. Esses cenários incluem uma igreja e uma biblioteca, ambos ambientes complexos e detalhados.
O filme inteiro exibe a atenção meticulosa aos detalhes. Por exemplo, ao criar os personagens, a equipe teve a atenção crucial de criar dentes precisamente esculpidos e com apenas dois milímetros de espessura, além de prestar atenção às nuances do rosto.
Nesse caso, o uso da técnica de stop-motion — que é conhecida por exigir precisão e atenção aos detalhes —, foi utilizado como uma escolha ousada e precisa. Por exemplo, a equipe de cenografia precisa criar cenários dobráveis que não comprometam a estética do cenário e deixem os bonecos se moverem e as câmeras os acessarem. As conexões óbvias entre as muitas divisões de produção enfatizam o quão crucial o trabalho em equipe é para o desenvolvimento do projeto.
Em relação à narrativa da produção, a história de “Almofada de Penas” retrata um casal que enfrenta a iminente morte da esposa, enquanto o seu marido lida com a aceitação do luto. A personagem se sente sufocada pela morte e, durante a produção, há a construção de uma possível imagem de vilão por parte do marido, com uma aura semelhante à produção “A Noiva Cadáver”.
Porém, através do jogo de câmeras complexo e misterioso, a produção dos estudantes do Instituto Federal de Santa Catarina transmite força e impacto, com uma trilha sonora forte e alta. O filme mostra o luto de ter que lidar com o luto e não ter a quem culpar, buscando inimigos e monstros culpados.
O filme serve para mostrar que há produções menores de altíssimo nível de requinte.
Marina Soares da Silva
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A vida, a loucura e a morte


“Sua lua-de-mel foi um longo calafrio. Loura, angelical e tímida, o temperamento sisudo do marido lhe gelou as sonhadas fantasias de noiva”. Na adaptação “Almofada de Penas” (2018), acompanhamos a dualidade da vida de Alícia sob os olhos da direção Joseph Specker Nys. O curta dá vida ao conto do uruguaio Horacio Quiroga, renomado  escritor de histórias fantásticas e macabras, conhecido por ter como objetivo atingir o leitor e cravar-se em sua memória.

Esta última julgo pessoalmente como verdadeira. Lembro-me bem quando, no 6º ou 7º ano do ensino fundamental, meu professor de espanhol decidiu que, para comemorarmos o Halloween, iríamos assistir a uma adaptação da obra de Quiroga. O filme intitulado “El Almohadón de Plumas” trazia a adaptação fiel do conto do uruguaio. Foram inúmeras noites conferindo o interior do meu travesseiro antes de repousar a cabeça para dormir.

Com a renovação da história por Specker, me vejo na obrigação de retomar este antigo costume. A animação em estilo Stop Motion perpetua o conteúdo visceral quiroguiano com um novo toque de realismo, que leva a narrativa para um final alternativo. A nova ótica, contudo, não abandona a tríade Vida, Loucura e Morte, tão presente no trabalho original.

Brincar com a adaptação de uma obra consagrada pode surtir diferentes resultados. No pior deles, lida-se com a perda do significado e destituição da mensagem original. No melhor, enaltece-se a originalidade. Specker não abriu mão completamente do final marcante, mas optou por um caminho que, para além do grotesco, incita o espectador a encarar algo mais real do que monstros em travesseiros: a morte e o luto.

Querer encontrar razões e culpados são ações inerentemente humanas. Quando se perde alguém querido é comum buscar por respostas. Vale ressaltar que, apesar do distanciamento físico, as emoções do marido de Alicia eram de amor, demonstrado tão furtivamente em atos como a frustração pela piora da saúde da esposa e as visitas nervosas ao leito desta. O curta não se compromete a explicar como ou porquê as coisas são como são, mas mostra como a impotência humana leva a inevitáveis arrependimentos.


Luana Consoli

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O curta-metragem "Almofada de Penas", lançado em 2018, é uma adaptação do conto clássico de terror escrito pelo autor uruguaio Horacio Quiroga. No formato de animação em Stop Motion, a obra conta a história de uma noiva que sofre de uma doença não descoberta pelo médico. Enquanto isso tira a vida da personagem, ela vai tendo sonhos e alucinações assustadoras que envolvem, principalmente, ela e o marido. Apesar disso, a grande tensão da história tem a ver com o travesseiro utilizado pela noiva, que assombra o marido após a morte dela.
Os sentimentos principais gerados pelo curta são o desespero e a angústia, refletido em alguns pontos específicos da animação. O jogo de cores é muito bem utilizado nesse sentido: quando as cenas são do momento presente, os tons são frios. Quando se trata dos sonhos, os tons são quentes. Normalmente, o cinema utiliza essas duas temperaturas nas cores para diferenciar momentos ruins e momentos bons. Mas não foi o caso em “Almofada de Penas” - aqui, o avermelhado das alucinações deixa a situação ainda mais quente.
Os cenários também acompanham esse objetivo. Grande parte da obra se passa em ambientes intimistas e até meio bizarros. O único momento onde ele parece mais distante é na hora do casamento do sonho, que se mantém fiel à transmitir a sensação de que não há nada que se possa fazer para impedir - e é daí que vem o desespero da personagem.
A trilha é utilizada de forma estratégica para fazer o público se sentir tão agoniado quanto a noiva. Com ruídos leves e poucas falas, aos poucos vamos nos tornando parte da história e ficando tensos pelo que vem a seguir. Ao mesmo tempo, isso dá a sensação de que a história ocorre de forma mais lenta do que realmente é - o curta tem apenas 12 minutos, muito bem preenchidos pelas cenas.
Para concluir, acredito que o único ponto negativo - mas talvez intencional - é a falta de construção mais profunda das personagens. O marido, que se mostra preocupado em grande parte da trama, causa ambiguidade ao ser o vilão das alucinações e nos faz pensar se ele realmente é uma boa pessoa para a noiva. No final, quando está muito envolvido pelo travesseiro, podemos até pensar que realmente está sentindo falta - até que o objeto se transforma em um animal assustador. Afinal, ele era o marido bonzinho da vida real ou o ruim dos sonhos?


Thais Kethlen
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Almofada de Penas representa o horror que escorre em silêncio

Por Lívia Goulart

O verdadeiro terror não surge de monstros ou sustos repentinos, mas de uma presença constante, quase invisível, que nos envolve sem aviso. Em Almofada de Penas (2018), dirigido por Joseph Specker Nys, o espectador é lançado em uma atmosfera sufocante e profundamente incômoda, onde o cotidiano se dissolve lentamente em pesadelo.

O filme, inspirado no conto homônimo de Horacio Quiroga, é uma experiência sensorial, onde o ritmo lento e os visuais opressivos trabalham em conjunto para construir um desconforto crescente. A narrativa gira em torno de Alicia, uma jovem em estado de debilidade física e emocional, cuja condição piora inexplicavelmente. A princípio, tudo parece apontar para um mal-estar psicológico, intensificado pela solidão e pelo ambiente estéril da casa onde vive com o marido. Mas logo a trama nos apresenta um elemento inquietante, que desafia qualquer interpretação lógica.

Specker Nys cria uma atmosfera quase sufocante, usando enquadramentos fechados e uma paleta de cores pálida, que reforçam a sensação de claustrofobia e fragilidade. Cada cena parece impregnada de algo invisível, mas palpável — como se a própria casa tivesse vida e devorasse lentamente sua protagonista.

O ponto alto do filme é a forma como ele evoca a sensação de desamparo. Alicia é uma personagem presa, não apenas à sua cama e à doença, mas também à indiferença do marido, que parece incapaz de perceber a gravidade do que está acontecendo. Essa desconexão entre os dois é tão dolorosa quanto os eventos físicos que ocorrem.

Quando o elemento central do terror finalmente se revela, é ao mesmo tempo grotesco e poético, como se a natureza estivesse reivindicando seu espaço de maneira cruel. Almofada de Penas não é um filme de sustos, mas de impactos — daqueles que ficam com você muito depois dos créditos finais, fazendo você questionar o que pode estar escondido nos cantos mais obscuros do seu próprio mundo.

Joseph Specker Nys entrega uma obra que se destaca no gênero de horror psicológico, ao combinar temas de vulnerabilidade, indiferença e o inevitável encontro entre o humano e o inumano. É uma experiência que sufoca, perturba e, acima de tudo, fascina.

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Almofada de penas 

Por Iago Carvalho 

Almofada de Penas (2018), dirigido por Cláudia Sainte-Luce, é um daqueles filmes que, ao mesmo tempo em que comove e faz rir, traz uma reflexão profunda sobre a complexidade das relações humanas e da vida cotidiana. Com uma narrativa simples, mas cheia de nuances, o filme se destaca pela sua delicadeza ao tratar de temas como solidão, amizade e o processo de envelhecimento. 

A história acompanha a vida de uma jovem chamada Celeste, interpretada com sensibilidade por Érica Rivas, que vive em um cotidiano marcado pela busca por afeto e pela falta de conexão com os outros. Ela é quem nos guia por um universo quase minimalista, mas com uma carga emocional poderosa. A forma como ela é capaz de transmitir as complexidades da personagem, suas inquietações e vulnerabilidades, é uma das grandes forças do filme. 

O roteiro de Sainte-Luce é repleto de pequenas observações do cotidiano que, à primeira vista, podem parecer banais, mas são, na verdade, representações de algo maior: a busca por significado e pertencimento. O título, Almofada de Penas, é uma metáfora perfeita para o filme, sugerindo leveza, conforto e até uma certa fragilidade, características que permeiam a trama. 

A direção de Sainte-Luce se destaca pela forma como ela utiliza os espaços e as interações dos personagens para construir uma atmosfera intimista. O uso de planos mais fechados e cenários simples faz com que o espectador se sinta parte daquele universo, quase como se estivesse acompanhando a personagem de perto, dividindo suas angústias e pequenos momentos de alegria. A leveza com que a diretora consegue transitar entre os momentos de humor e os mais dramáticos é outro ponto alto do filme, tornando-o acessível e tocante ao mesmo tempo. 

Além disso, o filme conta com um elenco coeso, em que cada personagem, por mais secundário que seja, tem sua importância dentro da narrativa. As relações entre os personagens são construídas de forma orgânica, e é interessante ver como a amizade e o carinho surgem de maneira natural, sem forçar melodramas. 

Almofada de Penas também se destaca pela sua sensibilidade ao tratar do envelhecimento e da solidão. O filme fala de forma honesta e sutil sobre a passagem do tempo, os momentos de perda e a busca por um propósito, tudo isso sem cair em clichês. A maneira como ele explora as emoções humanas mais profundas, com um toque de humor e uma gentileza tocante, torna a obra algo que fica com o espectador muito depois de o filme acabar. 

Em resumo, Almofada de Penas é um filme tocante e delicado que consegue capturar a complexidade das relações humanas e a beleza que pode ser encontrada nas coisas mais simples da vida. Com uma direção atenta aos detalhes e um elenco talentoso, é uma obra que merece ser vista e refletida, oferecendo não só um olhar sobre o processo de envelhecimento, mas também sobre a importância de se conectar com o outro de uma maneira verdadeira e sincera.


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