Dreams That Money Can Buy (1947)


Sonhos Que o Dinheiro Pode Comprar (Dreams That Money Can Buy), de 1947, dirigido por Hans Richter, foi considerado o último filme do movimento surrealista oficial. A obra conta com diversos artistas em sua produção, tais como, Max Ernst, Marcel Duchamp, Man Ray, Alexander Calder, Darius Milhaud e Fernand Léger, que trazem elementos de suas pinturas e esculturas para dentro do longa-metragem. Apesar da premissa simples, a produção é surpreendente no que diz respeito a direção de arte e fotografia. Efeitos práticos e efeitos especiais são amplamente utilizados para compor o cenário surreal do subconsciente humano.

A ficção, de um homem que descobre a capacidade de ver os sonhos e transforma isso em um negócio, se desenvolve de maneira perspicaz ao longo de sete sonhos, assemelhando-se com capítulos. Cada sonho partiu da direção de um dos artistas presentes na produção, trazendo cenários, formatos e narrativas totalmente diferentes para cada capítulo da estória.

O primeiro caso é dirigido por Marx Ernst, que também se faz presente em cena. Nele o protagonista recebe um casal, onde o homem, um bancário, é descrito como “sem virtudes e sem vícios”, sua mulher visa para o marido um sonho sobre ambição, mas ao sair do “escritório”, seu marido mostra seus desejos para Joe (protagonista). Assim, somos levados para o subconsciente do cliente, onde amor e prazer se tornam o tema central. Através da trilha sonora, iluminação e caracterização dos personagens, a aura Noir se faz presente na trama.

Já no segundo caso, Fernand Léger constrói o sonho em forma de um musical sobre uma mulher “pré-fabricada”. Mais a fundo, o cenário subconsciente se desenvolve utilizando manequins e artificialidades que, por sua vez, se contrapõe a racionalidade da personagem fora do transe. Léger marca sua presença na narrativa utilizando uma de suas pinturas cubistas, retratando nela uma mulher com o braço entrelaçado em uma forma abstrata. Além disso, rodas compõem diversas cenas, podendo ser vistas como uma alusão a engrenagens sociais, uma história que se repete em um ciclo vicioso, mas também podendo significar uma direção a ser tomada.

Em seguida, Man Ray desenvolve a psique da terceira cliente, o mesmo se faz presente no sonho através de um livro “Ruth, Roses and Revolvers” que, por sua vez, remete ao espirito de escritora da personagem em questão. Ray usa do mimetismo em cena de forma teatral, fazendo com que o espectador veja, através disso, a vida de “faixada” vivida pela cliente.

No intervalo entre um caso e outro, é apresentado o cenário externo ao escritório de Joy. O caos generalizado se faz presente enquanto um segurança posa de forma alheia ao contexto. Posteriormente, o próximo a ser analisado se faz presente, buscando uma pista para realizar uma aposta. Contudo, a narrativa entrega um paradoxo intrigante, porém sutil, sobre a influência da consciência para com o inconsciente. Marcel Duchamp, responsável por construir esse sonho em questão, mostra o delicado e tranquilo sonhar que se contradiz com o sonhador, pondo em prática seu espírito Dadaísta.

Partindo para o final da trama, o protagonista atende seu penúltimo caso. Realizado por Alexandre Calder, o aspecto de sonhos mais maduros até então, se transformam em algo lúdico, nostálgico repleto de esculturas, remetendo a um espetáculo circense. Calder deixa sua presença clara em cena através de sua arte característica.

Finalizando, Hans Richters dirige o encerramento do longa. Em seu último caso, Joe confronta a si mesmo em um sonho autobiográfico. A imagem do protagonista se transforma em um quadro vivo de Richters, intitulado como “Homem Azul”. O diretor dá um tom ainda mais pessoal a trama narrando junto com Richard Holback as reflexões do personagem sobre si mesmo, suas escolhas e caminhos.

Em resumo, assistir Dreams That Money Can Buy é como visitar uma exposição de arte surrealista com um toque dadaísta, onde a curadoria organiza as obras para se conectarem através de um narrador. Apesar da riqueza de efeitos visuais e práticos, o filme peca em sua qualidade sonora e sua trama estendida. O longa de aproximadamente 90 minutos, poderia se desenvolver em 60 e focar mais nas autorreflexões do protagonista.

Lunara Lippmann

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