Tangerine (2015), de Sean Baker e Chris Bergoch
De antemão peço licença à leitora para que me permita ruminar pelas minhas memórias e sentimentos viscerais antes de chegarmos ao núcleo do gênero literário que esperam encontrar neste texto: uma crítica cinematográfica. O contato que fazemos com obras de arte, com mensagens e narrativas em geral se conectam nas camadas temporais de nossas vidas de uma forma que também acontece com as pessoas que nos fazem ser quem somos. Fui marcada por muitas pessoas, mas hoje falo de uma em particular que encontrei em n momentos de minha vida adulta, mas cujo contato no contexto da exibição do filme fez ganhar novas camadas. Na segunda metade de 2019, aos 18 anos e a há poucos meses morando sozinha em uma cidade nova, relativamente grande (como podemos descrever a capital de Santa Catarina?), conheci muitas pessoas e, talvez mais do que nunca até aquele momento, muitas pessoas trans em todos os lugares que frequentava. Uma dessas pessoas foi introduzida a mim em uma festa por uma amiga em comum e n...