CRÍTICA: MEAN GIRLS (Garotas Malvadas), por Luiz Oliveira

"Meninas Malvadas" (2004), dirigido por Mark Waters e escrito por Tina Fey, é um clássico moderno da comédia adolescente que continua a encantar e divertir o público anos após seu lançamento. O filme mergulha no complexo mundo dos grupos sociais e das intrigas escolares com uma abordagem irreverente e bem-humorada, e isso é parte do que o torna tão especial. 

Acompanhamos Cady Heron, brilhantemente interpretada por Lindsay Lohan, uma aluna educada em casa, que tem seu primeiro contato com o animalesco mundo do ensino médio ao voltar para os EUA após passar a infância na África. Lá ela se vê envolvida em intrigas, competições femininas e as infinitas tribos identitárias do colégio. 

Um dos grandes destaques de "Meninas Malvadas" é seu roteiro, que combina inteligência com um humor afiado. Escrito pela, ao meu ver, gênia da comédia Tina Fey, o roteiro é o coração pulsante do filme, cheio de diálogos rápidos e piadas que lidam com temas como bullying e popularidade de uma maneira leve e sarcástica. As frases icônicas e os trocadilhos precisos são uma parte fundamental do charme do filme, contribuindo para uma experiência divertida e memorável. 

O elenco é outro ponto forte. Lindsay Lohan, traz uma mistura convincente de ingenuidade e astúcia, tornando a transição da sua personagem de "nova na escola" para "membro da panelinha" algo genuíno e satisfatório. Rachel McAdams, como Regina George, entrega uma atuação carismática e vil, criando uma vilã icônica que é difícil de não amar odiar. O elenco de apoio também é notável, com personagens igualmente bem trabalhados dentro de seus estereótipos. 

Além disso, o humor do filme se prova atemporal. Apesar de ter sido lançado há exatas duas décadas, as situações e os diálogos ainda conseguem arrancar risadas frouxas e caretas de constrangimento, o que é um feito significativo para uma comédia. O filme se tornou uma parte importante da cultura pop, com suas cenas e frases se tornando referências constantes, não é difícil encontrar na timeline da sua rede social, um meme ou referência à frase “entra no carro otária, vamos ao shopping”. Isso demonstra que o charme e o espírito divertido de "Meninas Malvadas" não envelheceram e continuam a ressoar com novas gerações.

Um aspecto notável é como "Meninas Malvadas" se tornou um cult queer. O filme é amplamente celebrado dentro da comunidade LGBTQ+, onde suas referências e personagens foram adotados como ícones. A maneira como o filme lida com questões de identidade e a sua representação não ortodoxa dos grupos sociais ressoaram especialmente com um público queer, que encontrou no humor ácido e na sagacidade do filme uma forma de expressão e identificação. A popularidade do filme dentro dessa comunidade ajudou a consolidá-lo como um clássico pop. 

O seu impacto cultural é evidente não apenas em sua influência no meio queer, mas também na forma como moldou como as comédias adolescentes são vistas. O filme introduziu novos padrões para o humor e as dinâmicas de grupo na tela, e sua influência pode ser vista em muitas produções que seguiram seu estilo irreverente e suas abordagens criativas. 

No entanto, o filme não está isento de críticas, é fácil apontar que ele utiliza estereótipos e simplificações em relação aos grupos sociais que representa, introduzindo as "meninas malvadas" quase como caricaturas. Isso pode fazer com que o filme pareça uma visão superficial do ambiente escolar. Mas principalmente, a trama segue um arco bastante previsível, com a jornada de Cady de outsider a popular e sua eventual queda, não oferecendo muitas surpresas, nos dando um final digno de Sessão da tarde. 

Mesmo com essas críticas, "Meninas Malvadas* se destaca por sua capacidade de entreter de forma consistente. A comédia continua a oferecer risadas e a manter sua relevância, demonstrando que a fórmula de humor e charme do filme é realmente atemporal. A capacidade de ainda fazer rir, mesmo depois de várias exibições, é um testemunho do apelo duradouro do filme. 

Em resumo, "Meninas Malvadas" é uma comédia que conseguiu capturar a essência do drama adolescente com muito humor e sagacidade. Apesar de alguns clichês e estereótipos, o filme continua sendo um favorito na minha lista pessoal, que oferece um espírito irreverente e risadas garantidas, solidificando seu lugar como um clássico de cult no cinema comercial contemporâneo e um ícone POP dentro da cultura queer.


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