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A Batalha da Rua Maria Antônia (2025), dir Vera Egito

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“Contagem Regressiva ao Ápice da Violência” por Davi Miranda Leite A Batalha da Rua Maria Antônia (2025) é um drama dirigido pela brasileira Vera Egito, também uma das responsáveis pelo roteiro do drama biográfico “Elis” de 2016. A trama apresenta a realidade de repressão da ditadura militar brasileira através da revolta universitária histórica de 1968 que dá nome à obra.  O filme é composto de 21 planos sequência que narrativamente, de forma intencional ou não, funcionam como uma contagem regressiva até quando tudo o que se construiu, entre as personagens e através dos espaços, se desmonta na cena derradeira que sintetiza o evento. A estética empregada de preto e branco, falta de uma trilha sonora consistente, câmera instável e diálogos secos acompanham a sensação de ser tudo como um documentário, uma proposta de ocupar uma lacuna histórica frequente: Quem são as pessoas por trás daquelas fotos antigas de multidões em revolta?  O filme apresenta essas pessoas como seres huma...

A 100 Passos de um Sonho (2014), Lasse Hallström, por Crizan Izauro e Tainara Flores

  Lasse Hallström, 2014 – Resenha crítica acadêmica por Crizan Izauro e Tainara Flores A 100 Passos de um Sonho , dirigido por Lasse Hallström e roteirizado por Steven Knight a partir do romance homônimo de Richard C. Morais, é um filme que se insere dentro da tradição do drama gastronômico contemporâneo. Produzido por nomes como Oprah Winfrey e Steven Spielberg, o longa constrói uma narrativa de reencontro entre culturas e reconciliação simbólica entre Oriente e Ocidente por meio da gastronomia. Entretanto, o que poderia se apresentar como uma fábula multicultural sofisticada e provocadora de debates sobre imigração, identidade e pertencimento, acaba sendo diluído por uma condução narrativa formulaica, representações estereotipadas e uma abordagem excessivamente simplista diante de questões políticas e sociais complexas. 1. Narrativa e construção dramática O filme tem como ponto de partida o deslocamento forçado da família Kadam, oriunda da Índia, que após perder o restaurante fam...

A Entrevista (1966), de Helena Solberg

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---- Quando nos falta unha, roemos os dedos por Jo P. Klinkerfus  Uma das minhas maiores aflições ao longo de minha formação como cientista social e depois como antropóloga é a forma como a há o tempo, o recente, o contemporâneo e o clássico são arbitrariamente construídos pelo poder. Quem são os nossos clássicos? Quanto tempo precisa se passar para ser passado? Quais assuntos consideramos contemporâneos? Essa minha birra ganhou forma dentro de mim no dia que descobri que Sojourner Truth proferiu o discurso de “Não sou eu uma mulher?” em 1851, mais de uma década antes de Karl Marx publicar sua obra prima O Capital, em 1867. Ainda assim, os estudos críticos do capitalismo são vistos como clássicos e o tópico da interseccionalidade é apresentado como uma questão contemporânea dentro das Ciências Sociais. Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas para atravessar valas, e que merecem o melhor lugar onde quer que estejam...

Dias Perfeitos (2023), dir. Wim Wenders

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==== Crítica: Dias Perfeitos (2023), dir. Wim Wenders por Amanda M. Dias Perfeitos é um daqueles filmes que parecem simples na superfície, mas deixam marcas profundas. Dirigido com delicadeza por Wim Wenders, o longa acompanha Hirayama (vivido de forma sublime por Koji Yakusho), um homem que trabalha limpando banheiros públicos em Tóquio — e que, apesar da rotina repetitiva, carrega uma vida interior rica, silenciosa e cheia de pequenos rituais. A narrativa é lenta, contemplativa, quase minimalista, mas isso é justamente o que faz o filme ser tão especial. Em tempos de excessos visuais e ruídos constantes, Dias Perfeitos é como um respiro calmo e necessário. O filme nos convida a observar o cotidiano com mais atenção, a valorizar os detalhes: a luz da manhã, uma árvore balançando ao vento, o som de uma música antiga em uma fita cassete. A fotografia é belíssima e carrega uma poesia visual discreta — cada enquadramento parece cuidadosamente pensado para transmitir silêncio, tempo e i...